As minhas crónicas nas consultas de dor orofacial e disfunção temporomandibular – caso 6

Zumbidos e disfunção temporomandibular, mitos e verdades - caso LHP

 Hoje partilho a história do Sr. LHP, que sofre, há pelo menos 15 anos, de um zumbido constante no ouvido esquerdo. Devido a este problema, o doente chegou a confessar-me que já pensou por várias vezes em colocar fim à sua vida, tal é o sofrimento e o impacto que este zumbido causa no seu dia a dia. Apesar de já ter consultado diversos especialistas em Portugal e no estrangeiro, nunca obteve solução! Foi o seu médico dentista que lhe recomendou agendar uma consulta comigo, devido ao estalido na articulação temporomandibular esquerda, para poder analisar se haveria relação. 
Mas afinal há ou não uma ligação entre os zumbidos e as disfunções temporomandibulares? Foi publicado um estudo científico recente (revisão sistemática) em que foi possível retirar conclusões sérias sobre a temática.  Observou-se o seguinte: (1)  57.5% dos doentes com disfunção temporomandibular também têm zumbidos; (2) 92.9% dos doentes com zumbidos apresenta disfunção temporomandibular; (3) doentes com disfunção temporomandibular têm 1.556 vezes mais probabilidade de sofrer de zumbidos; (4) doentes com zumbidos têm 2.859 vezes mais probabilidade de vir a sofrer de disfunção temporomandibular. Então a resposta é sim! Existe, de facto, uma relação entre zumbidos e as disfunções temporomandibulares. 

No entanto, há também uma pergunta para a qual, ainda ninguém  tem resposta: o tratamento da disfunção temporomandibular resolve o zumbido? E esta foi exatamente a pergunta do Sr. LHP! Mas, na verdade, o que podemos dizer é que não sabemos! Nos meus dados pessoais a taxa de sucesso na resolução do zumbido, tratando a patologia da articulação temporomandibular, não chega aos 50% (cerca de 47.3%). É pouco motivador, mas para alguns doentes é uma luz ao fundo do túnel. O Sr. LHP aceitou o tratamento e o resultado foi a redução de cerca de 70% da intensidade do zumbido – “o zumbido continua cá Professor, mas é menos intenso e tem dias que me esqueço dele!”. 

Mas afinal, porque é que há doentes que melhoram a 100%, outros a 70% e outros que não melhoram nada? Muito provavelmente porque há zumbidos que têm uma associação direta com o problema articular e outros são de causa otológica. Tenho feito alguns testes para tentar distinguir estes tipos de doentes e ter maior previsibilidade nos tratamentos, mas, infelizmente, ainda não tenho conclusões robustas. Nas minhas consultas continuamos a ter estes casos e tentar compreender possíveis melhorias com alguns tratamentos.