A importância de escolher um bom médico para tratar a articulação temporomandibular
Hoje decidi escrever um artigo de blog diferente. A motivação para o fazer não é enaltecer o meu trabalho e alimentar o meu ego, mas sim, alertar as pessoas da importância de escolher um bom profissional, baseando-me na partilha de alguns casos clínicos. Começo por partilhar o caso de ontem. A senhora RMLHR de 53 anos veio à minha consulta. Uma doente de Leiria com dor muito intensa na articulação temporomandibular direita (8/10) desde janeiro de 2024. Refere que em muito nova teve algumas queixas mas que nunca foram valorizadas e acabou por melhorar com o tempo. À minha observação tinha uma grande assimetria da face e suspeitei de uma hiperplasia do côndilo direito activa (pouco comum nestas idades). Disse-me que sempre teve esta assimetria e que estaria pior nesta fase. Quando lhe perguntei que tratamentos tinha feito, disse-me que já tinha ido a um cirurgião em Coimbra que lhe propôs uma cirurgia aos maxilares mas que não sentiu confiança. Foi a um médico dentista de Leiria que lhe propôs uma goteira e que lhe ia infiltrar a articulação temporomandibular com ácido hialurónico em 2 semanas. Mas como não estava a melhorar com a goteira, antes de fazer as infiltrações preferia ter uma outra opinião e através de uma pesquisa na internet viu o meu nome e chamou-lhe a atenção eu ser o único médico em Portugal credenciado pela Sociedade Europeia e Americana de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular. Queria a minha opinião. Enquanto ouvia a história, sem dizer nada pensava em hipóteses de diagnóstico. Será mesmo uma hiperplasia direita ou uma reabsorção esquerda? Poderá ser um tumor? (embora sejam casos raros, há pouco tempo tinha recebido uma doente da Fundação Champaulimand para operar um tumor da articulação temporomandibular), será apenas um deslocamento do disco articular? terá perfuração do disco? Um conjunto de opções que ficaram mais esclarecidas quando vi os exames.
Parecia mesmo ser um tumor da articulação temporomandibular direita. Começando pelo início: até agora tinha tido várias opções de tratamento sem diagnóstico! Mais, tinha uma sessão marcada de uma infiltração da articulação temporomandibular com ácido hialurónico pelo seu médico dentista de Leiria, num provável caso oncológico – nem quero imaginar as consequências que poderiam ocorrer para a doente se tivesse prosseguido. Estava a usar uma goteira também sem haver um diagnóstico. Tudo isto é assustador! A doente já tem cirurgia marcada para fazermos biópsia e ajudar a esclarecer o diagnóstico, que para já é uma suspeita de um tumor da articulação temporomandibular direita. Em qualquer área da Medicina, um bom diagnóstico é fundamental para um plano de tratamento. Alguns estudos na área da Medicina apontam para 20-35% de erros no diagnóstico, mas errar um diagnóstico é uma coisa, não ter um raciocínio clínico para obter um diagnóstico é uma dimensão diferente, por isso é importante escolher bons profissionais, com capacidade de raciocínio clínico para cuidarem de si. Além desta situação a experiência e subespecialização é importante, sobretudo em áreas específicas como a articulação temporomandibular. A doente SIRCA de 27 anos foi observada por mim há uns meses e ainda me lembro dela. Lembro-me do seu caso porque foi operada às duas articulações por outro cirurgião e agora não abre a boca, tem uma paralisia facial dos dois lados e continua com dores. A mãe é médica e veio com a filha à consulta. É realmente uma situação dramática. Em relação à paralisia facial é algo que pode acontecer e alerto sempre os meus doentes para esse risco, mas ainda não tivemos nenhum caso. Talvez porque usamos uma técnica diferente que eu publiquei no International Journal of Surgery e que reduz muito esse risco. Lamentavelmente já não podemos ajudar a doente para recuperar da paralisia. Em relação à dor e à abertura da boca, a doente neste momento tem uma anquilose das articulações (fusão dos ossos) e precisa de uma cirurgia com prótese das ATM. Já está marcada para dezembro de 2024. A importância de escolher um bom médico, além do raciocínio clínico deve também considerar a experiência e eventualmente a subespecialidade quando são áreas específicas. Penso que os meus resultados são sobretudo devidos a eu fazer muitas cirurgias desta articulação e isso permite-me ir progredindo da melhor forma e ajudar mais doentes!