As minhas crónicas nas consultas de dor orofacial e disfunção temporomandibular – caso 4

Dois pacientes com acompanhamento cirúrgico após 3 anos - caso MVZ e LPLF

Há uns dias, por coincidência, observei na minha consulta dois doentes que operei há 3 anos. O doente MVZ de 19 anos (16 anos quando realizou a cirurgia) e a doente LPLF de 42 anos (39 anos quando realizou a cirurgia). As histórias destes doentes eram diferentes. O doente MVZ veio à consulta com queixas de bloqueios frequentes quando abria a boca (sentia a boca a ficar presa), dor na zona do ouvido e limitação da abertura da boca. Havia uma história de acidente com traumatismo da face em criança que poderia justificar os sintomas. Quando pedi uma ressonância magnética da articulação temporomandibular observei um deslocamento do disco articular sem redução na articulação direita e um deslocamento com redução da articulação temporomandibular esquerda com derrame articular. Foi proposto para artroscopia da articulação temporomandibular. 

 A doente LPLF tinha sido operada numa outra instituição sem sucesso e veio desesperada com dor muito intensa na articulação temporomandibular esquerda. Esta doente tinha dor a mastigar, a falar mas até em repouso sentia desconforto na face. Além disso tinha estalidos articulares e dores de cabeça. Depois de ver a ressonância magnética tive dúvidas na proposta de tratamento. Seria melhor para a doente uma cirurgia aberta ou uma artroscopia da articulação temporomandibular? Discuti o caso com os meus colegas da Sociedade Europeia de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular (European Society of TMJ Surgeons – ESTMJS). É sempre complicado reoperar casos de outros colegas, mas é necessário ajudar os doentes. Ambos foram operados por uma abordagem minimamente invasiva – artroscopia da articulação temporomandibular. Dentro da artroscopia há várias técnicas que se podem usar, adaptadas a cada situação. As cirurgias correram bem, embora a recuperação do doente MVZ tenha demorado um pouco mais de tempo do que o expectável. É muito bom ver estes doentes após 3 anos e saber que estão bem, que estão felizes, sem dores e com boa função mastigatória. Ambos fazem uma melhor gestão das emoções, evitam apertar os dentes e quando têm tensão muscular visitam a nossa fisioterapeuta para evitar problemas futuros na articulação temporomandibular. A literatura mostra que os doentes que foram operados há 3 anos, estando bem, há uma probabilidade muito elevada de estarem bem em 10 anos, por isso MVZ e LPLF, as notícias são muito boas!